Exercício de curvas polares e reequilíbrio 1: Reequilibrar a aerodinâmica do carro de corrida

Neste exercício são propostos alguns parâmetros aerodinâmicos de um carro fictício. O objetivo é modificar os parâmetros de ajuste para atingir os alvos. As configurações básicas do veículo estão resumidas abaixo:

CX∙S = 1.330 ; CZF∙S = -2.280 ; CZR∙S = -2.390

Onde CX∙S é o coeficiente de arrasto dado em m², CZF∙S e CZR∙S são a força descendente nos eixos dianteiro e traseiro, respectivamente. Outro dado importante são os das asas, já que este problema aborda um carro de corrida de roda aberta, há duas asas, portanto, dois parâmetros de ajuste, que são α e β que se referem ao ângulo de ataque da asa dianteira e traseira, respectivamente.
FIGURA 1 – Curvas polares, deltas e inclinações da asa dianteira.
Na Figura 1 é possível extrair informações úteis para este exercício. Por exemplo, no gráfico ΔCX∙S × FW ângulo existe a inclinação da reta, que é dada por 0,0044. Isso significa que a cada 1° de variação de FW, CX∙S, CZF∙S e CZR∙S variam de 0,0044, – 0,04564 e 0,00068, respectivamente.
FIGURA 2
Na Figura 2 estão as informações sobre a asa traseira. É possível notar que para variação angular de 1°, CX∙S, CZF∙S e CZR∙S variam de 0,01005, 0,00082 e – 0,02313, respectivamente. Com esses dados é possível entender alguns pontos da asa dianteira e traseira. O FW fornece mais ganho de downforce sem um alto valor de arrasto em relação ao RW, como pode ser visto abaixo:

EffRW = CZ∙S/CX∙S = (0.00082 – 0.02313)/0.01005 = – 2.2199 ≃ – 2.2 → Rear wing efficiency

EffFW = CZ∙S/CX∙S (-0.04564 + 0.00068)/0.0044 = – 10.21818 ≃ – 10.2 Front wing efficiency

Como pode ser visto, a eficiência da asa dianteira EffFW é cerca de 4,6 vezes maior que a RW.

Questão 1 – Reequilibrar usando a asa dianteira

Dada uma configuração inicial e a asa dianteira polar, qual é o ângulo da asa dianteira necessário para um balanceamento dianteiro Fbal = 42% ?
CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.330 – 2.280 -2.390
TABELA 1 A primeira etapa é calcular a força descendente total CZT∙S e o equilíbrio frontal Fbal para a configuração de linha de base.

CZT∙S = -2.280 + (- 2.390) = – 4.670 m²

Fbal = – 2.280 / – 4.670 = 0.488222 ≃ 48.8%

CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.330 – 2.280 -2.390 – 4.670 48.8
TABELA 2 Como o objetivo é reduzir o Fbal para 42%, o delta será de 6,8%. Isso significa que o equilíbrio do veículo é deslocado para o eixo traseiro. Usando a folha de dados ilustrada pela Figura 1, é possível entender que esse ajuste só pode ser feito reduzindo o ângulo da asa dianteira. Portanto, as características FW em – 15° estão resumidas na Tabela 3.
Wing / Parameters ΔCX∙S [m²] ΔCZF∙S [m²] ΔCZR∙S [m²]
Front wing @ 15° – 0.067 0.668 – 0.010
TABELA 3 O procedimento é somar os dados descritos na Tabela 3 aos da Tabela 2.O procedimento é somar os dados descritos na Tabela 3 aos da Tabela 2.
CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.330 – 2.280 -2.390 – 4.670 48.8
FW 15° 1.263 -1.612 -2.400 – 4.012 40.2 – 15
TABELA 4

Assim, pelo mesmo procedimento adotado para o cálculo da linha de base Fbal, foi calculado para esta nova condição. A Tabela 4 mostra que o novo saldo da frente está abaixo da meta Fbal, que é de 42%, portanto uma diferença de 1,8%. O interessante dessa tabela é que foram necessários 15° para reduzir Fbal em 8,6%. Isso permite encontrar outra quantidade, ΔFbal/Δα:

ΔFbal/Δα = (40.2 – 48.8)/(- 15 – 0) = 0.5733 ≃ 0.6 [%/°]

Esta é uma quantidade importante, pois o objetivo é reduzir Fbal de 48,8% para 42%, ΔFbal da linha de base para a meta é – 6,8%. Uma vez calculado quanto por cento de Fbal a asa dianteira é capaz de produzir para 1°, é possível calcular o ângulo exato para atingir este Fbal.

ΔFbal/Δα = 0.573 → Δα = ΔFbal/0.573 = – 6.8/0.573 = 11.87° ≃ 12° → Δα = – 12

Como pode ser visto, é solicitado apenas -12° para atingir a meta de 42% Fbal. Agora, usando novamente os dados ilustrados na Figura 1 é possível calcular os deltas ΔCX∙S, ΔCZF∙S e ΔCZR∙S já que os gráficos exibem as inclinações, ou seja, as contribuições para cada grandeza por 1°.

ΔCX∙S = 0.0044∙(-12) = – 0.0528

ΔCZF∙S = – 0.04564∙(-12) = 0.54768

ΔCZR∙S = 0.00068∙(-12) =- 0.00816

O procedimento a seguir é apenas para adicionar essas quantidades em CX∙S, CZF∙S e CZR∙S das condições de linha de base, resumidas na Tabela 5.

CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.330 – 2.280 -2.390 – 4.670 48.8
FW 15° 1.263 -1.612 -2.400 – 4.012 40.2 – 15
FW 12° 1.277 – 1.732 -2.398 – 4.130 41.9 – 12
TABELA 5

Finalmente, para a primeira questão, é necessário um ângulo FW de 12° para atingir 42% Fbal alvo.

Questão 2 – Re-balancear e re-drag com α e β

Dados os dados da Figura 1 e 2, defina quais são os ângulos α e β da asa dianteira e traseira para obter um Fbal e CX∙S alvo de 42% e 1,3 m². A Figura 2 resume os dados de RW. Uma vez que as inclinações já são conhecidas, e a inclinação ΔFbal/Δβ = – 0,3 %/°. Esta é uma informação importante, pois ΔFbal/Δα ≃ – 0,6 %/°, assim é possível verificar que α e β devem variar na proporção 1:2 para manter o carro equilibrado.

CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.277 – 1.732 -2.398 – 4.130 41.9 – 12
TABELA 6

De acordo com a Tabela 6, a configuração da linha de base agora é a última com α = – 12°. Como o Fbal já está em 42%, o objetivo é trazer o CX∙S para 1,3. Somando 1° na asa dianteira (Tabela 3), as condições de base vão para:

CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.277 – 1.732 -2.398 – 4.130 41.9 – 12
FW 11° 1.281 – 1.778 – 2.397 – 4.175 42.5 – 11
TABELA 7

Como pode ser visto, CXS está próximo de 1,3 e Fbal está 0,6 acima do alvo. Agora é interessante usar a asa traseira polar. Como FW variou em 1°, RW deveria variar em 2°.

CX∙S CZF∙S CZR∙S CZT∙S Fbal α β
Base 1.277 – 1.732 -2.398 – 4.130 41.9 – 12
FW 11° 1.281 – 1.778 – 2.397 – 4.175 42.5 – 11
Rebal 1.301 – 1.762 – 2.443 – 4.205 41.9 -11 2
TABELA 8

Por fim, ambas as metas foram atingidas e o carro foi mantido equilibrado.

Questão 3 – Avalie se o resultado da questão 2 representa uma melhora

Para esta questão é necessário avaliar a eficiência, que é um parâmetro que define o quão bom é o setup em fornecer downforce com baixo custo em arrasto. A eficiência da linha de base é dada por:

Effbaseline = CZT∙S/CX∙S = – 4.670 / 1.330 = – 3.51128 = – 3.5

O parâmetro Eff* é conhecido como eficiência marginal rebalanceada, pode ser calculado pela seguinte equação:

Eff* = ΔCZT∙S/ΔCX∙S

ΔCZT∙S = [- 4.205 – (- 4.670)] = 0.465

ΔCX∙S = (1.301 – 1.330) = – 0.029

Eff* = 0.465/-0.029 = – 16.03448 ≃ – 16

FIGURA 3

A Figura 3 ilustra a linha entre essas configurações, a inclinação dessa linha é dada por Eff* = – 16. O objetivo é a avaliação da nova configuração, se esta representa uma melhoria. Eff* é o parâmetro comparado com Eff*, que é uma restrição predeterminada do projeto.

FIGURA 4

A Figura 4 ilustra o que Eff* representa graficamente, a inclinação entre a nova opção e a configuração da linha de base. Porém, Eff* deve ser comparado com Eff*, que é parâmetro calculado por programas específicos para simulação de tempos de volta. Isso estima uma eficiência marginal reequilibrada para o mesmo tempo de volta em uma determinada pista de corrida.

FIGURA 5

Uma opção aerodinâmica é definida melhor que a linha de base se for caracterizada por uma eficiência marginal que seus ΔCXS e ΔCZS coloquem a nova configuração dentro da região azul vista na Figura 5. O problema é que nem todas as situações possuem um simulador de tempos de volta como suporte . Assim, é possível analisar novamente a Figura 3. De acordo com a Figura 5 é possível notar que se ΔCXS < 0, a nova configuração vai para o lado esquerdo do gráfico, enquanto ΔCZS < 0, a nova configuração vai para cima. Os resultados para os cálculos deste exercício apresentaram e ΔCXS = – 0,029 e. ΔCZS = 0,465.

FIGURA 6

Como pode ser visto, a nova configuração pode não representar uma melhoria, estaria em torno da região onde indica o ponto de cor vinho, portanto fora da região de ΔCXS e ΔCZS negativos.