O que é a carbonização que ocorre nos motores?
A carbonização é o grande mal que afeta os motores modernos (gasolina e diesel.), e que infelizmente não é evitada ou tratada da maneira correta por alguns profissionais do ramo. Neste artigo o que é a carbonização, e como evitar esse problema.
A evolução dos motores
A década de 70 foi o auge dos motores V8 e de grande cilindrada, mas também foi o seu declínio, pois em 1973 acontecia o início da segunda fase da crise do petróleo e então o aumento de 300% no preço do barril de petróleo. Com a crise, os motores grandes perderam espaço para os mais econômicos e, por sua vez, menores. A situação ficou mais complicada com a pressão das ONGs com relação à emissão de poluentes dos motores, ou seja, não havia mais espaço para carburador e distribuidor.
Embora o princípio de funcionamento continue sendo o mesmo, os motores passaram por diversas modificações para obter a máxima eficiência possível. O objetivo era aumentar a potência, diminuir o consumo de combustível e diminuir os níveis de emissões de poluentes.
A injeção eletrônica entra de vez no mercado. Sensores, atuadores e uma central de processamento monitoram e controlam todo o funcionamento do motor, com isso o combustível é melhor aproveitado pelo motor, sem os excessos do carburador. Mas outro fator também foi vital para a melhora de eficiência dos motores: A taxa de compressão. Naquela época a taxa de compressão era mais branda, estava na média de 7:1 e 8:1, os motores tinham um grande deslocamento volumétrico, mas uma baixa potência, embora o torque fosse bastante alto.
Vamos tomar como exemplo dois carros com motores de regime de funcionamento completamente diferentes.
Honda Civic Type R EK9 1998
- Motor: Quatro cilindros em linha;
- Deslocamento: 1.595 cm3 (1.6L);
- Taxa de compressão de 10,8:1;
- Diâmetro e curso: 81,00 mm x 77,4 mm;
- Potência: 185 cv @ 8.200 Rpm;
- Torque: 16,3 Nm @ 7.500 Rpm;
- Rotação máxima: 8.500 Rpm.
Pontiac Firebird Trans AM 1979
- Motor: Oito cilindros em V (90°);
- Deslocamento: 6.586 cm3 (6,6L);
- Taxa de compressão: 7,9:1;
- Diâmetro e curso: 110,50 mm x 85,85 mm;
- Potência: 185 cv @ 3.600 Rpm;
- Torque: 43,5 Nm @ 2.000 Rpm;
- Rotação máxima: 4.400 Rpm.
Perceba as diferenças desses motores, eles geram praticamente a mesma potência, mas são distintos em tecnologia. Os motores atuais possuem taxas de compressão elevadas para aproveitar o máximo possível do combustível, chega ser o limite em que o combustível pode suportar sem detonar (Octanagem). Consequentemente, os esforços internos que o motor é submetido são muito maiores. A temperatura no momento da combustão também aumenta rigorosamente e isso exige modificação nas propriedades construtivas dos motores, hoje eles passam a funcionar com folgas menores para que se obtenha uma absorção maior das vibrações.
O blow-by também foi influenciado pelas novas folgas, sendo, portanto mais difícil que o vapor de óleo invada a câmara de combustão pelo entre pontas dos anéis devido à menor folga.
Com esse avanço dos motores o óleo também precisou acompanhar as mudanças. As menores folgas e a maior temperatura na câmara de combustão exigiam um óleo de viscosidade diferente, que resistisse a maior temperatura e que conseguisse lubrificar o motor com folgas bem menores. O maior problema com a temperatura é o fato de ela favorecer a oxidação do óleo, na verdade, isso vale para qualquer substância, portanto o Óleo precisa ser mais resistente a altas temperaturas e não perder as suas propriedades precocemente. O óleo também precisa resistir à partida a frio e a fase de aquecimento do motor, um dos momentos críticos (que mesmo com a tecnologia, ainda é o ponto fraco dos motores.) no qual parte do combustível acaba por contaminar o óleo e esse combustível reage com óleo formando uma borra.
O que é carbonização
Acúmulo de resíduos provenientes da queima incompleta do combustível, ou combustível de má qualidade.
Causas da carbonização
Trânsito intenso (motor funcionando em marchas baixas, baixa velocidade.), percursos curtos (sem que o motor atinja sua temperatura ideal de funcionamento.), má qualidade do combustível, jeito de dirigir, falta de manutenção preventiva e etc.
Como ocorre
A carbonização começa na fase de aquecimento do motor, neste momento a ECU, através dos sinais do sensor de temperatura, comanda o tempo de aberturas das válvulas injetoras (bicos injetores.) privilegiando a mistura rica.
Grande parte do combustível não é queimada resultando em depósitos de carvão, essa fuligem contamina toda câmara de combustão e a sonda lambda. A sonda lambda por sua vez detecta mistura rica, envia sinal a ECU que passa a trabalhar com mistura pobre. Além disso, os vapores dessa combustão em fase fria são extremamente prejudiciais ao óleo, que ao se misturarem, formam a conhecida borra.
Com o óleo formando borra e a sonda lambda informando mistura rica incorretamente, a carbonização contamina a parte de força do motor.
O cabeçote é contaminado através do Blow-By, que é um sistema que aproveita os vapores do óleo contidos no cárter, esses vapores passam ao coletor de admissão para serem aproveitados no motor contaminando o próprio coletor, corpo de borboleta, motor de passo (caso o veículo o possua.), bicos injetores e as válvulas de admissão. Essa fuligem entra na câmara e chega novamente à sonda lambda, e finalmente, alcançando também o catalisador.
Devido a informação incorreta da sonda, a ecu comanda o empobrecimento da mistura ar/combustível. Com a quantidade menor de combustível a troca de calor dentro da câmara de combustão fica comprometida, superaquecendo o cabeçote. A borra que se forma da mistura do óleo com o combustível em excesso da partida a frio, passa pela bomba e se espalha pelo motor chegando ao cabeçote. Com o superaquecimento do cabeçote, a borra vira uma tipo de goma, que ao atingir o cárter, pode entupir o pescador de óleo e/ou obstruir a bomba de óleo comprometendo o sistema de lubrificação do motor.
O sistema de alimentação também, sofre com a carbonização, pois os bicos injetores e flauta ficam próximos ao cabeçote (geralmente no final do coletor de admissão). Quando este superaquece, prejudica também o combustível contido na flauta, que forma uma goma no sistema de alimentação alcançando as tubulações através do retorno, contaminando o tanque, e também obstruindo a linha.
Com o motor todo contaminado pela goma da carbonização, as altas temperaturas atingidas pelo mesmo fazem com que a goma vire carvão, então o motor estará literalmente carbonizado.
Principais sintomas
Estouros no coletor de admissão ou escape, perda de rendimento (devido a compressão dos cilindros afetada) quando exigido, falhamentos, detonação, superaquecimento, formação de borra no motor, nível de emissão de poluentes acima do normal, marcha lenta irregular.
Descarbonização
Quando o motor está completamente carbonizado não existe outra solução, o motor deve ser aberto e limpo. Serviços parciais apenas pioram a condição do motor, uma vez carbonizado a solução é abrir o motor e efetuar a limpeza de todos os componentes, sem esquecer a injeção que também vai estar contaminada. Infelizmente serviços como este custam caro, abrir o motor é um custo de mão de obra elevado, e também terá as despesas com peças, pois as juntas do motor deverão ser trocadas.
Se o motor não estiver perdendo desempenho, mas parcialmente carbonizado, é fácil observar que há uma grande quantidade de borra de óleo na tampa de abastecimento de óleo, já é um sinal para uma descarbonização preventiva. Nesse caso, retira-se a tampa de válvulas e o cárter e efetua-se a limpeza da borra, e utilizar um Flush no óleo antes de trocá-lo para limpar as galerias de óleo é recomendável (sempre tomando o cuidado de limpar o pescador de óleo após o flushing, pois a sujeira que desce para o cárter irá entupir o pescador de óleo.). Esse serviço é bem mais em conta que abrir o motor por inteiro.
Esses produtos químicos que vendem no mercado devem ser usados com bom senso, se o motor está totalmente carbonizado, um descarbonizante não vai resolver o problema, pelo contrário, vai piorar a situação obstruindo a bomba de óleo. Se o motor estiver parcialmente carbonizado, pode ser usado. O objetivo dos produtos químicos como limpa válvula, limpa tbi, limpa carter, flush entre outros, podem ser úteis na prevenção, mas demandam cuidado na aplicação. Portanto, é consulte um mecânico de confiança.
Como evitar a carbonização
Não existem truques para evitar a carbonização, manutenções periódicas e preventivas são o melhor procedimento para retardar ao máximo a carbonização, mas vale ressaltar algumas dicas para o bom funcionamento do motor.
- Ao ligar o carro pela manhã não fique esperando o carro esquentar, ligue e saia. Ficar parado só vai gastar combustível, e andar vai fazer a bomba de óleo trabalhar melhor e lubrificar o motor;
- Andar com o carro em poucas distâncias sem que o motor atinja sua temperatura ideal de funcionamento é uma forma de expor o motor a carbonização, se você trabalha perto de casa é aconselhável ir a pé ou de outro meio de transporte;
- Manutenções preventivas regradas é a melhor forma de evitar problemas nos carros;
- Gasolina barata quase sempre é adulterada, lembre que o barato em curto prazo pode sair caro;
- Prefira a gasolina aditivada, pois contém aditivos detergentes e dispersante que limpam a toda a linha de combustível, válvula de admissão e então, a câmara de combustão.
Foto capa: http://cheapcarsdomain.com