Visão geral do sistema de referência de pneus

O sistema de referência do pneu ilustra como uma roda tem várias velocidades. Um modelo tridimensional é caracterizado por três eixos, x, y e z. O primeiro é positivo quando apontado para frente, enquanto os eixos y e z são positivos se apontados para fora e para baixo a partir do centro da roda, respectivamente. No entanto, uma roda de carro não está posicionada em linha reta vertical, na verdade, há um pequeno ângulo entre o centro da roda e o eixo z, isso é chamado de ângulo de cambagem γ. A roda pode realizar momentos em torno de dois eixos, o eixo y e o eixo z, que são o momento de resistência ao rolamento My e o torque de autoalinhamento Mz, respectivamente (Figura 1). Existe também o momento de tombamento, que gira em torno do eixo x, mas não é comumente referido na literatura.

FIGURA 1 – O pneus e seus eixos, ângulos, planos, velocidades e momentos.

Embora o momento de resistência ao rolamento afete a rotação da roda, na verdade a roda gira em torno de seu próprio eixo, que é capaz de se mover de acordo com o curso vertical da roda. Como isso também resulta em uma variação de cambagem, a demanda de torque sobre a roda está sempre mudando. O eixo de rotação da roda move-se de acordo com as forças nas direções x, y e z, portanto sempre muda sua orientação. Assim, é possível calcular a demanda de torque:

T = FxRl + My∙cosγ + Mz∙sinγ

Existe outro ângulo importante na operação dos pneus, o ângulo de escorregamento α. Esta é a diferença entre o curso da roda e a direção da linha central da roda (plano da roda). α tem uma grande importância uma vez que as forças e momentos do pneu são consequência da velocidade de deslizamento, que é a componente da velocidade que é gerada devido a α. Outro efeito do ângulo de derrapagem são as deflexões dos pneus, que às vezes são erroneamente consideradas como a causa das forças e momentos dos pneus.

FIGURA 2

No entanto, a deflexão do pneu tem alguns efeitos na operação do pneu. Na verdade, devido à deflexão da área de contato, existem alguns raios considerados nos cálculos do pneu. O raio da roda também é chamado de raio sem carga rf, porque é basicamente o raio da roda sem nenhuma carga sobre o pneu. O raio de rolamento ou raio carregado r é destacado pelo ponto C na Figura 2. É basicamente o raio resultante após a deformação do pneu. Outro raio importante do pneu é o de rolamento efetivo (re), que é descrito pelo ponto S na Figura 2. Este é caracterizado por sua variação constante, criando assim uma trajetória helicoidal conforme o carro se desloca. Além disso, o valor deste raio costuma ser maior que o raio carregado, ou seja, re está abaixo da área de contato.

FIGURA 3

A principal diferença entre as rodas modernas e as antigas é a conformidade. Atualmente, as rodas automotivas defletem e fornecem uma geometria de contato diferente em relação à antiga roda rígida, que possui um contato basicamente definido por uma linha. Portanto, as condições de rolamento livre também são diferentes, porque a deflexão do pneu resulta em uma área de contato não uniforme e a força normal resultante Fz será ligeiramente deslocada do centro da roda (aro). Isso cria um componente de torque que atua contra a rotação da roda, que é chamado de resistência ao rolamento My. Além disso, a força longitudinal Fx também será afetada por essa deflexão, pois está em função do deslocamento ex (Figura 4).

FIGURA 4

Como pode ser visto, Fz irá gerar um torque de contra-rotação. ex é devido à uniformidade da área de contato do pneu. Assim, é possível definir algumas hipóteses devido à conformidade dos pneus. Uma vez que, a velocidade do aro da roda é dada por:

Vx = V∙cos(α) → Ωx = 0

Vy = -V∙sin(α)

Ωy = Ω

Vz = 0

Ωz = 0

O efeito do ângulo de escorregamento deve ser melhor compreendido para fornecer uma definição mais profunda dessas velocidades.

Definição do ângulo de deslizamento

FIGURA 5 – Definição do ângulo de escorregamento α ou slip angle α.

Basicamente, o ângulo de escorregamento é a diferença entre a direção para a qual a roda está apontando e a direção para a qual a roda está se movendo e geralmente é dado por α. Porém, existem também os ângulos de escorregamento dados pelos vetores de velocidade que caracterizam o coeficiente prático e teórico do ângulo de escorregamento (Figura 5). Portanto, esses dois podem ser escritos pelas seguintes relações:

ky = Vsy / Vsx

sy = Vsy / Vr

FIGURA 6 – Velocidade de escorregamento dividida em vetores.

Porém, se o vetor velocidade de deslizamento for investigado a fundo (Figura 6) é possível visualizar que a componente x da velocidade de deslizamento Vsx é uma função do raio carregado e de rolamento. Em outras palavras, a deflexão do pneu define o vetor velocidade de escorregamento, mas essa deflexão é definida pelas cargas sobre as rodas. Como o veículo está constantemente exposto a transferências de carga, o ângulo de escorregamento também está em constante variação. Portanto, é possível escrever as equações de Vsx e Vsy:

Vsx = (r – r0)∙Ω = Vs∙cos(alpha) – r0∙Ω

Vsy = – Vs∙sin(α) = – Vsx∙tan(α)

Assim, é possível atualizar as equações dos ângulos de deslizamento teóricos e práticos:

ky = Vsy/Vsx = (Vsx∙tan(α))/Vsx = tan(α) → ky = tan(α)

sy = Vsy/Vr = Vsx∙tan(α)/Vr = (Vsy/Vr)∙tan(α) → sy = (Vsy/Vr)∙ky

Aplicando este conceito para os movimentos longitudinais é possível verificar o coeficiente de deslizamento:

FIGURA 7 – Coeficiente de deslizamento é usado para o deslizamento longitudinal, ou seja, rodas girando em falso (wheelspin) ou travadas durante a frenagem.

kx = – (Vx – Ω*re)/Vx

sx = – Vsx / Vr = – (Vx – Vr) / Vr

Referências

  • Guiggiani, Massimo. The Science of Vehicle Dynamics. Handling, Braking, and Ride of Road and Race Cars. New York, Springer, 2014;
  • Reza N Jazar , “Vehicle Dynamics. Theory and Application”, Springer, 2008.