Seminovos batem recorde: 3,88 milhões de unidades vendidas no 1º trimestre de 2025?

O primeiro trimestre de 2025 trouxe um marco histórico para o setor automotivo brasileiro: os seminovos atingiram a marca de 3,88 milhões de unidades vendidas em todo o país, de acordo com a Fenauto (Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores). Esse volume representa um crescimento de 8,2% em comparação com o mesmo período do ano anterior e reforça a força do segmento em meio a um cenário de preços altos dos carros novos.

Modelos tradicionais, como o Voyage, ganham cada vez mais espaço nesse movimento, já que oferecem boa relação custo-benefício e se encaixam no perfil de consumidores que buscam qualidade sem comprometer demais o orçamento. Esse resultado, além de consolidar os seminovos como protagonistas do mercado, também reflete mudanças importantes no comportamento do consumidor brasileiro.

Preço acessível e lógica da depreciação

A preferência por seminovos pode ser explicada por uma combinação de fatores. O primeiro é o valor. De acordo com o levantamento da Fenauto, o preço médio dos carros novos subiu mais de 20% entre 2022 e 2024, pressionado pela alta nos custos de produção e pela mudança no perfil dos modelos, que estão cada vez mais tecnológicos e, portanto, mais caros. Já os seminovos oferecem uma faixa de preço mais acessível e, muitas vezes, vêm equipados com itens semelhantes aos de carros zero quilômetro, tornando-se uma alternativa racional para quem precisa de mobilidade sem comprometer tanto o orçamento.

Outro ponto relevante é a depreciação. Um veículo novo perde, em média, de 15% a 20% do seu valor apenas no primeiro ano de uso, segundo a Associação Brasileira de Automotores (Anfavea).  Ao optar por um seminovo, o consumidor evita essa perda inicial mais brusca, adquirindo um carro com valor de revenda mais estável. Essa lógica financeira se aproxima das decisões observadas no setor imobiliário, em que o aluguel, muitas vezes, se mostra mais inteligente do que a compra em determinadas fases da vida, especialmente em grandes centros urbanos.

Crédito mais acessível impulsiona vendas

Além disso, o aumento da oferta de crédito direcionado a seminovos tem impulsionado as vendas. Um relatório recente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) aponta que as linhas de financiamento para veículos usados tiveram crescimento de 12% no volume de contratos firmados no primeiro trimestre de 2025, na comparação com o mesmo período do ano anterior.  A melhora no acesso ao crédito, aliada a taxas de juros ligeiramente mais baixas, têm permitido que mais consumidores consigam realizar a compra sem recorrer a recursos próprios.

Mudança no perfil do consumidor

Outro fator que ajuda a explicar esse recorde é a mudança no perfil de consumo da população. A Pesquisa de Mobilidade Urbana da CNT (Confederação Nacional do Transporte) revelou que 68% dos brasileiros passaram a considerar a relação custo-benefício como critério principal na escolha de um veículo. 

Isso significa que o desejo por um carro zero não desapareceu, mas a decisão final de compra tem se tornado mais racional, pautada em fatores como economia de combustível, custo de manutenção e acesso a peças de reposição. Os seminovos, nesse sentido, encaixam-se perfeitamente nesse novo comportamento, já que oferecem boa performance com gastos menores.

Adaptação das concessionárias e lojistas

As concessionárias e lojistas também têm se adaptado a essa realidade. Redes tradicionais investiram em plataformas digitais e em programas de certificação de qualidade, nos quais o carro seminovo passa por inspeções rigorosas antes de ser colocado à venda.

Segundo a Fenauto, veículos com até três anos de uso foram os que mais puxaram as vendas no trimestre, respondendo por 45% das transações. Essa preferência mostra que o consumidor busca segurança e qualidade, mas sem abrir mão de um preço competitivo.

Conclusão: maturidade e tendência de expansão

O recorde de vendas de seminovos não deve ser interpretado apenas como reflexo da dificuldade de compra de carros novos. Ele também sinaliza uma maturidade maior do mercado, que consegue oferecer produtos e condições que se adaptam às necessidades de diferentes perfis de clientes. Para famílias, jovens em busca do primeiro carro ou profissionais que usam o veículo para trabalhar, os seminovos têm se mostrado a opção mais equilibrada entre custo, qualidade e liquidez futura. O resultado de 3,88 milhões de unidades vendidas no primeiro trimestre de 2025 marca um momento histórico para o setor de seminovos no Brasil.

Impulsionado por fatores econômicos, financeiros e comportamentais, esse crescimento demonstra como o consumidor brasileiro tem buscado alternativas inteligentes em um cenário de preços altos e mudanças rápidas. Assim como no setor imobiliário, em que o aluguel vem ganhando espaço frente à compra de imóveis, o mercado automotivo mostra que soluções mais flexíveis e financeiramente viáveis estão se consolidando como tendência. O recorde não é apenas um número: é a prova de que o mercado de seminovos ocupa um papel central na mobilidade do país e deve continuar em expansão ao longo de 2025.